Sombra

Hoje olhei rapidamente o chão,percebi algo que me seguia,ao longo do caminho,uma figura cinza incorporando todo o movimento que faço.Agora nós chamamos de sombra e dizem que vamos substituir,então resolvi escrever esta crônica.

    A sombra.Está em uma esquina , por exemplo, em um domingo ensolarado, na ida à igreja, na saída da porta de nossa casa.A sombra está dentro do carro, em um domingo de pesca entre pai e filho, na ida ao supermercado para comprar a carne do churrasco, em um tiroteio no morro da favela.A sombra está entre as grades de ferro,de um presídio,na casa do cão e nele próprio, está no barco que navega pelo mar;está em Brasília no movimento dos políticos,está ao lado dos edifícios urbes, dos casebres das favelas,apoiando a plataforma – sua representação sobre o mar.A sombra está apoiada nas passarelas de grandes cidades, no gari que varre a rua.Nação de meu país , é a sombra que não percebera, mas sabe que existe, está na direção do jovem perdido, confuso e drogado representando a solidão;a nossa sociedade.A sombra se localiza no fluxo entre automóveis e pedestres, o corre-corre do dia a dia.Todos insanos para chegar em casa.Ao abrir a porta, de fato ela só descansa por alguns minutos ou até horas.A sombra ao mesmo tempo estará refletindo um casal de amantes abraçados na alameda, no pátio de suas casas, na quadra do colégio a qual não é coberta, na árvore da praça, na calçada.Na pelada, entre os moleques lá da vila, ou entre craques do futebol.A sombra está na praia onde se encontra a família reunida, no castelo de areia, no bronzear , na vista do mar.Ainda estará no carrinho do cachorro quente.Ás vezes “vingada” por dias , no reflexo das flores . Na rotina do tédio do mendigo.Na parada de ônibus.Mas, com o entardecer, a sombra começa a se dissolver, nuvens aparecem e ela se torna serena por algumas horas,às vezes por dias.Porém, surge de repente acoplada ao Sol, no outono ao cair as folhas;na primavera no brotar das árvores;no inverno após uma noite de neve ou de muito frio.Ao acender a lareira da sala no mediano da noite ela reaparece novamente.No músico que estará apresentando um show, quando o jovem está em frente ao computador ela permanecerá ali.No nascer de uma criança no leito de um hospital, na morte de um indivíduo.A sombra do passarinho na gaiola,no hastear da bandeira , na marcha dos soldados, na cavalgada do homem forte...Ela está na classe de turma onde a professora estará explicando o conteúdo.Ao ligar a luz para o jantar.Em cavernas, quando acenderam tochas de chama.Onde houver, fulgor do sol, luz, fogo, sempre haverá sombra.Caso você se esconda, ela continuamente existirá.Pois, se houver dias de chuva, há a claridade da lareira da avó, a luz do abajur da criança.Em mim, ora me desnorteia, ora me orienta, dá medo, acalma , brinca de esconde- aparece.A sombra está em todos os ambientes, em todo lugar.Mas, diferentemente da sombra de Peter Pan, que fugia de seu dono,ela sempre estará ligada a nossos pés, nos acompanhando durante toda a nossa vida.